domingo, 2 de março de 2014

Como assim, não é mais fofo?

Quando minhas filhas eram menores, sempre ouvia comentários do tipo: " Aproveite agora que são bebês e são fofas... Depois dos 3 anos, perdem a graça." Ficava super intrigada, mas depois esquecia.


Chegando aos 3 anos, percebi que estas pessoas estavam redondamente enganadas... Elas não eram mais bebês, mas continuavam fofas, pelo menos para mim! Nada perdeu a graça, pelo contrário! A cada dia, ficavam mais independentes e me divertia muito com as pérolas que soltavam e as idéias fora da caixa tão próprias da imaginação fértil infantil. Pude me permitir ser criança novamente, brincar com elas, redescobrir minha infância.


Quando entraram na idade escolar, novas descobertas e dificuldades. A gente se estressa com a relutância deles em fazer tarefas, mas ao mesmo tempo se solidariza com as pessoinhas, pois se lembra de como era chato decorar tabuada e de como a semana de provas era cansativa. Começam as atividades esportivas, as apresentações artísticas e nos encantamos com cada performance e conquista deles! Ficamos admirados, como pais e mães babões que somos, da maneira como há algum tempo atrás nem conseguiam ficar de pé e hoje driblam com desenvoltura em um jogo ou conseguem dançar uma coreografia inteira! Pequenos milagres que são nossos filhos!

Adorei curtir todas as fazes das minhas crianças e mal posso esperar para o que está por vir! A escolha da profissão, a faculdade, a emancipação delas e a sensação de missão cumprida! Sei que será um processo doloroso, que não as terei por perto do jeito que as tenho hoje, mas acredito que a alegria de saber que fiz tudo certo e que criei duas pessoas de bem, será a maior de todas! 

No livro "Quem ama, educa!", Içami Tiba diz que os filhos são navios e os pais são portos. Devemos criá-los para ganhar o mundo e que só voltem para se abastecer de carinho e conselhos. E acredito nisso. Não quero que minhas filhas sejam bebês dependentes de mim e nem de nenhuma outra pessoa. Quero que se tornem pessoas fortes, livres e que sejam capazes de correr atrás de seus sonhos por mais loucos e maravilhosos que sejam! E mesmo assim, serão minhas fofas para sempre!

Fonte figura: http://kawaiiwallpapers.com/super-cute-kawaii-wallpaper


Enfim, fiz um 21!

23 de fevereiro de 2014. Praça Charles Miller. Finalmente, a realização de um sonho: minha primeira Meia Maratona!


Este momento foi adiado por 3 anos, após meu primeiro treinamento frustrado por uma fratura por estresse na tíbia, que me fez parar de correr por 18 meses. Nesse período, aproveitei para pesquisar e ler mais sobre treinamento, alimentação e comecei a musculação, que se tornou fundamental para a prevenção de novas lesões e melhorar minha performance. No início, fiquei muito triste e desanimada, mas hoje vejo que desta pausa que fui obrigada a dar, tirei lições muito proveitosas... Passei a prestar mais atenção aos sinais que o meu corpo dava, a conhecer melhor meus limites, a me alimentar e me hidratar de maneira correta durante os treinos, coisas que passavam completamente despercebidas e que eram de suma importância.

Completei uma planilha de iniciantes de 16 semanas. Confesso que não consegui cumprir 100% dela por conta de alguns contratempos, mas fiz o melhor que pude, me dedicando principalmente aos longos e aos treinos de ladeira, que me preocupavam bastante, depois de ver a altimetria do percurso. Outra coisa que me deixou apreensiva foi a temperatura... Em fevereiro, os termômetros estiveram sempre altíssimos desde as primeiras horas do dia e, com o término do horário de verão, a situação se agravaria no final da prova...

Cheguei um dia antes a São Paulo, para retirar o kit e facilitar nossa chegada ao local da prova dentro do horário programado, sem sacrificar as crianças. Ficamos em um hostel muito aconchegante, comemos pizza no jantar, fui dormir cedo, mas confesso que não consegui dormir direito por causa da ansiedade. Parecia uma criança em véspera de passeio! Rs... Acordei às 5:00 horas, tomei meu café, arrumei a mim e às crianças e partimos para o Pacaembu.

Chegando lá, as borboletas que já batiam as asas no meu estômago, pareciam querer sair pela minha boca! Fiquei bem nervosa... Rs... Fui ao banheiro, para evitar um possível desconforto durante a prova e fiquei no aguardo do anúncio da largada, enquanto me alongava. Como já tinha chegado o horário, não escutando anúncio nenhum, resolvi ir para a concentração e eis que vejo uma movimentação... A largada já havia sido dada e o pessoal já estava correndo! Fui pra galera, então!

Comecei a corrida em ritmo bem confortável, seguindo a estratégia de fazer uma prova progressiva e completar o percurso sem parar e sem andar, independente de tempo. Queria chegar no final inteira, sem lesões...

Adorei o percurso, bem desafiador com subidas e passando por vários lugares legais da cidade. São Paulo é minha terra natal e adoro participar de provas lá pela oportunidade de lançar um olhar "voyeur" para ela. É sempre um prazer correr por suas ruas, ao mesmo tempo que admiro certos detalhes que outrora me escapavam pela pressa e por causa do tumulto constante, tão típicos da capital... Admirar os prédios, a arquitetura, as pessoas e a dinâmica da cidade, ao mesmo tempo " dentro e fora" como o personagem Nick de " O grande Gatsby". 

Largamos no Estádio do Pacaembu, passamos pelo Memorial da América Latina, Minhocão, Bom Retiro, Praça Júlio Prestes, entre outros pontos importantes da cidade. Durante o trajeto, vi cenas que me deixaram extremamente emocionada e motivada: pais empurrando seus filhos especiais em cadeiras de rodas, cadeirantes, pessoas que exalavam superação em cada gota de suor. Um momento que me deixou sem fôlego foi mais ou menos no km 8, quando passei pelo Sr. João, um guerreiro que completou a prova de muletas e inspirou o artigo da revista Contra Relógio João: você nunca será o último! Seu esforço e determinação eram sobre-humanos! Não consegui conter as lágrimas diante dessa lição de vida.

Mas não são só coisas bonitas que vemos nas provas... Teve gente que correu " de mentira" só para tirar foto e não completou a prova, pessoas que cortaram o caminho... Se me incomodo com isso? Não. Só dá para ter pena, porque os maiores enganados são eles próprios. Foi a primeira vez que vi pessoas em seus limites físicos... No viaduto Pacaembu, um senhor teve de ser socorrido após distender a panturrilha... Foi ao chão e não conseguiu mais nem andar. O pessoal que estava participando da prova foi ao Posto Médico mais próximo e acionou a equipe de socorristas. De lá até o final, foi bem difícil se manter motivada... Entre o km 15 e o km 16 teve mais uma subida... As pessoas começaram a parar para alongar as pernas, teve outra que vomitou e outras que passaram a caminhar, reunindo suas últimas forças... Quanto a mim, a partir do km 16, fiquei bem dolorida: glúteos e joelhos, principalmente... Graças a Deus e aos treinos de fortalecimento, minha panturrilha ficou ali, bem boazinha, nem reclamou... Mas olhando em volta, a vontade era de me juntar aos caminhantes, de parar e sentar... O que me manteve firme foi mesmo ficar repetindo sempre mentalmente meu objetivo: " Não vim pra andar! Vim pra correr! Falta só mais um pouco..." Nesta parte da prova, a corrida virou trote, mas fui em frente mesmo assim.... E me veio a musiquinha da Elis na Rádio Mental: " você pega o trem azul... O sol na cabeça... O sol na cabeça..."  A coisa tava feia... Parecia que tinha um sol pra cada corredor! O termômetro marcava 30 graus!  :cp

Na reta final, já quase abrindo o bico, ouço umas vozes bem conhecidas... " Vai, mamãe!!!! Vai, mamãe!!!!!" Era meu esposo com minhas pequenas! Nesta hora, meu ânimo que estava adormecido, se levantou com tudo! Um gesto tão simples da parte delas, mas que fez toda a diferença pra mim! Daí, foi só festa! Passei na linha de chegada, minhas lágrimas caíram e as emoções ficaram todas misturadas: alegria, incredulidade, alívio.... E fui lá pegar minha medalha... É só um pedaço de metal pendurado em uma fita para alguns, mas para mim, representa não só os 21 km percorridos na prova, mas também os 3 anos de preparação física, pesquisa e, principalmente, persistência.... Rs... Muita gente me xinga de teimosa e cabeça dura, mas muitas vezes, dou graças a Deus que sou assim, porque caso contrário, teria desistido do meu sonho e quem faz isso, morre aos poucos. E esse fim não é pra mim! Eu quero é sonhar, viver por muitos anos e ir cada vez mais longe!